As fintechs brasileiras levantaram quase US$ 48 milhões até meados de março de 2023, e o destaque deste ano até aqui é o segmento de crédito, com 252 startups, que equivalem a 17,8% das 1.481 fintechs brasileiras mapeadas no estudo. Cerca de 33% das startups de crédito foram fundadas após abril de 2018, depois que o Banco Central publicou uma resolução que regulou essas companhias para pessoas e empresas no país.
O estudo destaca que “agora, as fintechs de crédito estão diante do mais desafiador dos cenários para a indústria: uma economia com inflação e taxa de juros em alta. Se por um lado a atual conjuntura econômica castiga mais forte as jovens empresas de tecnologia fornecedoras de crédito, que dependem do mercado de capitais para arrecadar investimentos, por outro elas têm a chance de aproveitar essa brecha deixada pelos grandes bancos para conquistar mais clientes”.
De acordo com o Distrito, a implementação da 4ª fase do Open Finance pelo Banco Central deve favorecer as fintechs de crédito agora em 2023, já que as startups terão acesso aos perfis financeiros e histórico bancário dos clientes, permitindo que tracem um score de crédito mais preciso para cada um deles.
O Open Finance é, aliás, uma das tendências do mercado financeiro que devem permanecer no radar ao longo de todo o ano, junto com o Pix, o real digital, os NFTs e o blockchain. De olho na evolução desses mercados e nos potenciais de inovação e negócios que eles ainda podem trazer, o Fintech Report 2023 trouxe um panorama das tendências de tecnologia financeira que devem agitar 2023, sobre os quais falaremos a seguir.
Open Finance
O Open Finance amplia o alcance e o conceito de Open Banking, movimento que começou em 2021 e que trouxe uma série de novidades importantes para o mundo financeiro. No início do Open Banking, a legislação exigia que os bancos disponibilizassem tecnologias que permitissem aos usuários fornecer acesso controlado às suas contas e demais informações bancárias num ambiente seguro. Com o Open Finance, o mesmo princípio se aplica, mas não fica restrito às empresas e informações envolvidas lá na gênese do sistema financeiro aberto. A partir da sua implementação, em março de 2022, mais tipos de dados e mais tipos de empresas passaram a fazer parte do ecossistema, como corretoras de valores, cooperativas, bancos, seguradoras, plataformas de investimento, fundos de previdência e pensão, dentre outros.
O Distrito Fintech Report mostrou que 2 anos após o início das operações do Open Banking/Finance, o projeto já teve adesão de 15 milhões de usuários, que equivalem a cerca de 8% dos brasileiros que têm conta em banco. De acordo com o relatório, “especialistas apontam que o receio da população em compartilhar dados online pode ter comprometido o avanço do sistema nesse primeiro momento, mas que esse entrave deverá ser superado conforme as pessoas compreendam os benefícios do sistema”.
Até aqui, foram registrados cerca de 22 milhões de “consentimentos”, que é a autorização dada pelos usuários para que seus dados possam passar de uma instituição para outra. Há um ano, o número girava em torno de 3 milhões, o que representa um aumento significativo no período. Além disto, 45 produtos e serviços já estão disponíveis para os clientes do Open Finance, incluindo crédito e agregadores financeiros.
“O sistema financeiro aberto foi planejado para ser implementado em quatro fases para que o compartilhamento das informações do consumidor fosse seguro e monitorado. A última delas já foi lançada, mas não implementada e será concluída neste ano e incluirá participantes de diversos setores como seguradoras, corretoras de investimentos, câmbio e previdência.”, destaca o relatório.
Pix
Que o Pix é um grande sucesso ninguém discute. De dezembro de 2021 a fevereiro de 2023, o número de novas chaves cadastradas no Brasil saltou de 381 milhões para 577 milhões. No último dia 20 de novembro, o Pix chegou à marca de 104 milhões de transações em apenas 24 horas.
“Graças ao enorme sucesso do Pix, algumas iniciativas estão sendo conduzidas pelas autoridades econômicas brasileiras para adicionar novas funcionalidades ao sistema de pagamentos. Uma delas é a formação de um bloco de pagamentos instantâneos para transações internacionais entre brasileiros e cidadãos da Colômbia, Uruguai, Equador e Chile. Outra é o chamado “Pix automático”, que deverá funcionar como uma alternativa ao débito em conta para pagamentos recorrentes”, pontua o Fintech Report.
NFTs
NFT significa “Non-Fungible Token” ou “Token Não-Fungível”, em português. Trata-se de um tipo especial de criptomoeda baseada em blockchain, que é única e não pode ser substituída por qualquer outra coisa. Ao contrário das criptomoedas comuns, como o Bitcoin, que são fungíveis (ou seja, podem ser trocadas umas pelas outras), os NFTs são únicos e representam ativos digitais exclusivos, como obras de arte, música, vídeos, fotos, tweets, entre outros. Os NFTs são criados usando a tecnologia blockchain, que permite a autenticação, verificação e rastreamento da propriedade de um ativo digital. Isso significa que um NFT pode ser comprado e vendido como qualquer outro tipo de ativo, e o proprietário tem a garantia de que é o proprietário exclusivo daquele ativo.
Somente em 2021, o mercado global de tokens não fungíveis movimentou mais de US$ 24,8 bilhões em negociações, de acordo com a startup DappRadar. No ano passado os NFTs atingiram 101 milhões de unidades no mundo todo, 67% a mais do que no ano anterior (DappRadar). O Brasil foi considerado o 2º país com maior número de proprietários de NFTs, atrás apenas da Tailândia, segundo uma pesquisa da Statista.
Blockchain
Em 2022, os investimentos globais em blockchain chegaram a quase US$ 27 bilhões, que mesmo com a desvalorização no 2º semestre representou um avanço de 4% em relação a 2021. A maior parte (56%) do volume investido no setor foi direcionada a startups de Web3, que levantaram 39% a mais do que em 2021. Aqui no Brasil, os investimentos ainda são tímidos, mas com muita chance de crescimento. Segundo o Distrito Fintech Report, no último trimestre de 2022 foram investidos apenas US$ 46 milhões na nova tecnologia em toda a América Latina (CB Insights). No mesmo período, os EUA, a Europa e Ásia arrecadaram US$ 1 bilhão cada um.
Blockchain é uma tecnologia de registro distribuído (DLT – Distributed Ledger Technology) que permite o armazenamento seguro e descentralizado de informações em uma rede de computadores. Ela funciona como um livro-razão digital e descentralizado, no qual todas as transações são registradas e validadas por uma rede de computadores, sem a necessidade de um intermediário ou autoridade central.
Cada bloco na cadeia de blocos (blockchain) contém um registro criptografado de todas as transações que foram validadas na rede, e cada novo bloco adicionado à cadeia contém um registro do bloco anterior, criando uma cadeia ininterrupta de informações.
Essa tecnologia tem muitas aplicações, especialmente em sistemas financeiros, onde pode ser usada para registrar e validar transações em criptomoedas, como o Bitcoin e o Ethereum, bem como em outras áreas, como cadeias de suprimentos, governança e identidade digital.
Uma das características mais importantes do blockchain é a sua segurança. Como as informações são validadas por uma rede descentralizada de computadores, é muito difícil para qualquer pessoa ou grupo mal-intencionado manipular ou corromper os dados registrados no blockchain. Isso torna o blockchain uma tecnologia confiável e segura para muitas aplicações importantes.
Real digital
O Real Digital é uma proposta do Banco Central do Brasil para criar uma moeda digital oficial brasileira baseada na tecnologia blockchain. Essa moeda digital será uma versão eletrônica do Real, a moeda oficial do Brasil, e permitirá que as transações financeiras sejam realizadas de forma mais rápida, segura e eficiente.
“A moeda virtual poderá ser convertida e sacada em papel-moeda e vice-versa. Diferentemente das criptomoedas tradicionais (bitcoin, ethereum), o real digital é privado e tem lastro”, diz o texto do Distrito Fintech Report. Os testes do projeto-piloto estão previstos para começar em maio deste ano, mas sem envolver transações reais. Ao longo do projeto, haverá simulações de uso da moeda digital por cidadãos comuns a partir de depósitos tokenizados. Esta fase de testes deve durar até fevereiro de 2024 e, em março, inicia-se a etapa de avaliação do projeto antes do lançamento para o público.
Para 2023, as fintechs e outras empresas de tecnologia financeira continuarão a crescer, com uma maior adoção de serviços bancários digitais, carteiras digitais, pagamentos móveis e outras tecnologias financeiras. Neste cenário, é certo que muitas evoluções virão, todas focadas no empoderamento das pessoas, no aumento da bancarização e na construção de um sistema financeiro mais justo para todos.