Em 30 de março deste ano, o Banco Central e o Conselho Monetário Nacional colocaram em vigor a resolução que criou, oficialmente, o Open Finance aqui no Brasil, por meio de uma normativa que permite que instituições financeiras compartilhem informações sobre serviços e clientes, mediante sua autorização prévia.
Com um futuro bastante promissor no país, o Open Finance caminha a passos largos em termos de inclusão, já que a regulação brasileira faz uso de princípios de design arrojados, acompanhados de uma importante onda de inclusão digital, impulsionada, especialmente, pela pandemia de covid-19.
O Open Finance permitirá, de modo geral, que as empresas do setor financeiro possam oferecer soluções diversificadas e personalizadas, num ambiente de serviços totalmente integrado ao dia a dia dos clientes, reduzindo a assimetria de informações, promovendo a cidadania financeira e favorecendo novas formas de relacionamento entre as entidades participantes, seus clientes e parceiros.
Do ecossistema financeiro aberto, podem participar corretoras de valores, cooperativas, bancos, seguradoras, plataformas de investimento, fundos de previdência e pensão, dentre outros. O compartilhamento de dados pode envolver informações que vão desde serviços e produtos bancários e financeiros tradicionais até produtos de câmbio, seguros, previdência e investimentos.
Mas, neste cenário, uma das maiores revoluções deverá acontecer no setor de crédito. E é sobre isso que trataremos agora.
O mercado de crédito no Brasil
Segundo dados do IPEA, o saldo total de crédito no Sistema Financeiro Nacional, medido em relação ao PIB, permaneceu estável na leitura de fevereiro de 2022 em 53,3%. O crédito livre alcançou R$ 2,8 trilhões, com aumentos de 1,1% em fevereiro e de 20,8% em relação ao mesmo mês do ano anterior, em valores nominais. A carteira de crédito direcionado também cresceu 0,4% no mês e 10,8% na comparação interanual, totalizando R$ 1,9 trilhão em fevereiro.
Apesar de alguns analistas considerarem ter havido uma leve piora nas condições do mercado de crédito, em particular uma queda nas concessões que, conjugada aos níveis de comprometimento, inadimplência e taxa de juros, dá suporte a esta constatação, a análise prospectiva do mercado para 2022 e 2023 é bastante positiva. Isso se dá, especialmente, pelas medidas regulatórias em curso, relacionadas ao fortalecimento das garantias e à securitização, que fornecem suporte importante para o crescimento estrutural e sustentável deste mercado.
Dentre estas medidas, está o Open Finance, que promete revolucionar a forma como instituições e tomadores lidam com a oferta de crédito, favorecendo o desenvolvimento econômico e melhorando a alocação de recursos na economia.
Segundo pesquisa realizada pela Serasa Experian, o Open Finance pode incluir 4,6 milhões de pessoas no mercado de crédito e injetar R$760 bilhões na economia, dado o compartilhamento de informações mais claras sobre o perfil dos consumidores, o que, por sua vez, permitirá a oferta de linhas de crédito mais adequadas, com taxas de juros e prazos de pagamento mais atrativos.
Segundo a revista Exame, o estudo mostrou, ainda, uma perspectiva de elevação média na capacidade de pagamento mensal do consumidor, passando de R$929 para R$1.391, ou seja, um aumento de 49%. A alta pode ser explicada como reflexo da clareza de avaliação de pagamento do consumidor trazida pelo Open Finance.
As transformações já estão acontecendo
Como já dito, nós consideramos que o mercado de crédito deva ser um dos mais impactados pelo Open Finance. E acreditamos nisso porque haverá uma grande mudança na forma como as instituições acessam e analisam os dados dos seus clientes.
Historicamente, aqui no Brasil, sempre houve grandes deficiências tecnológicas e falta de padrões homologados para avaliar as pessoas que estão solicitando crédito. Até o surgimento do Open Finance, os players deste mercado apenas executavam centenas de regras e decisões automatizadas para determinar qual seria o melhor cliente para um empréstimo. Estas regras e decisões raramente podiam ser totalmente verificadas e, por isso, a instituição assumia níveis de risco bastante altos.
Hoje este cenário já começa a mudar. Graças às soluções de tecnologia trazidas pelo Open Finance, que fornecem acesso automatizado e seguro aos dados bancários por meio de APIs e demais plataformas, as instituições financeiras agora podem verificar diretamente a renda de seus potenciais clientes. Dessa forma, alcançam uma visão profunda e instantânea da sua real estabilidade financeira e da sua capacidade de pagamento, contando com métricas de crédito baseadas em dados transacionais atualizados para obter insights e melhorar seus processos de avaliação de risco ou incluí-los em suas pontuações de crédito.
Por outro lado, é preciso lembrar que o poder sobre os dados está na mão do cliente, cabendo a ele a escolha sobre com quem deseja compartilhá-los. Isso muda drasticamente a forma de acesso ao crédito, já que o cliente passa a contar com informações mais claras e com ofertas cada vez mais personalizadas.
Se antes o cliente ficava preso em um número reduzido de ofertas, aceitando propostas descabidas apenas por falta de opção, hoje ele tem uma capacidade muito maior de visualizar e entender a sua vida financeira, com conhecimento muito mais apurado para avaliar o valor das taxas e condições de pagamento do crédito. Se anteriormente o cliente não sabia o quanto pagava efetivamente de juros em seus empréstimos e tratava o preço de forma subjetiva, hoje ele já está aprendendo a ponderar de forma mais conservadora a decisão de preço (custo efetivo versus custo de oportunidade).
Por isso, para que a instituição possa fazer uma determinação de preço correta, será necessária uma avaliação mais abrangente do risco do cliente, que, prejudicada com as grandes mudanças provocadas pela pandemia, obriga a adoção de modelos mais assertivos e focados nos seus fluxos financeiros recentes. Na prática, será preciso analisar os dados bancários dos clientes e montar um painel de % e valor de juros pagos por cada cliente e suas taxas efetivas atuais (propensão ao financiamento do cliente). Para clientes de baixa propensão, será preciso analisar suas fontes de receitas e momento de falta de caixa, de modo se poder gerar insights para uma oferta de baixo custo, por exemplo.
Nós entendemos, por fim, que será preciso usar os dados compartilhados no Open Finance não somente para ampliar o leque de produtos de crédito sem qualquer critério. Será preciso, mais do que nunca, entender o quanto o cliente já paga de juro, quais são suas condições reais de arcar com os empréstimos e financiamentos contraídos, qual o cenário que o cerca e quais suas necessidades financeiras reais. Sem esta análise minuciosa, a chave não vai virar e as melhores oportunidades do sistema financeiro aberto passarão longe.
Portanto, é hora de investir em tecnologia, estratégia e inteligência focadas em Open Finance. E é hora de fazer isso contando com a ajuda de quem entende do mercado financeiro, com quem possa, de fato, oferecer um conjunto de soluções capazes de alavancar negócios com ganho de market share, aumento da eficiência e redução de perdas. Conte conosco nesse processo!