Como já dissemos por aqui, o futuro do Open Finance no Brasil é bastante promissor em termos de inclusão, já que a regulação brasileira faz uso de princípios de design arrojados, acompanhados de uma importante onda de inclusão digital, impulsionada pela pandemia de covid-19.
Mas, apesar de o Brasil estar liderando de forma bastante acelerada a implantação do Open Finance na América Latina, com um sistema que vem atraindo mais e mais adeptos, ainda precisamos traduzir todas as suas vantagens em benefícios tangíveis para os usuários finais e eliminar alguns desafios que podem se tornar empecilhos à participação esperada. E é para entender um pouco mais sobre esse assunto que convidamos você a continuar a leitura.
Tudo começou com o Open Banking
Segundo o Banco Central, a implementação do Open Banking, em 2021, tinha como objetivo final “aumentar a eficiência nos mercados de crédito e pagamentos, promovendo um ambiente de negócios mais inclusivo e competitivo, preservando a segurança do Sistema Financeiro Nacional”.
Com incentivo à inovação, o BC buscava uma maior integração dos serviços financeiros digitais no dia a dia dos clientes, reduzindo a assimetria de informações entre os provedores destes serviços. Buscava, também, facilitar a implementação de novos modelos de negócios, aumentar a eficiência do Sistema Financeiro Nacional (SFN) e do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) e, por fim, promover a cidadania financeira, favorecendo novas formas de relacionamento entre as entidades participantes, seus clientes e parceiros.
A partir do cumprimento destes objetivos, o Banco Central esperava que a vantagem competitiva não fosse baseada na escala ou capital dos participantes, mas, sim, na capacidade adequada de compreensão e antecipação das demandas dos clientes, que já vinham mudando em ritmo significativo nos últimos anos.
Na primeira fase do Open Banking, as instituições participantes foram obrigadas a divulgar informações públicas e agregadas sobre os canais de atendimento, produtos e serviços disponíveis, em formato de dados abertos. Contrariando previsões pessimistas, somente nos três primeiros meses de implantação do sistema, foram registradas 71 milhões de chamadas de API bem-sucedidas, um poderoso indicativo que já deixava claro o sucesso do movimento por aqui.
Pouco mais de 1 ano depois, esse número explodiu. Para ser ter uma ideia, dados divulgados pelo Valor Econômico dão conta de que, apenas em março de 2022, foram 204,3 milhões de chamadas, um significativo aumento de 111,9% em relação ao mês anterior.
A evolução para o Open Finance
Diante da sequência de números positivos que o Open Banking trouxe ao longo de 2021 e no comecinho de 2022, no dia 30 de março o Banco Central colocou em vigor o Open Finance.
Enquanto o Open Banking focava exclusivamente em dados e serviços relacionados a produtos bancários, o Open Finance já começava a ser desenhado para englobar outros instrumentos financeiros como credenciamento, câmbio, investimentos, seguros e previdência.
Em 31 de maio, a quarta etapa do Open Finance foi aprovada. Na prática, desde aquela data, as instituições participantes já podem analisar os dados compartilhados pelos usuários para entender quem é o indivíduo, qual o seu perfil de hábito de consumo e quais são suas reais necessidades, criando produtos e serviços assertivos e personalizados.
Com o acesso ao histórico das pessoas que compartilharem seus dados, as instituições financeiras, cooperativas, fintechs e demais empresas do setor agora precisam brigar pelo seu cliente no mercado, oferecendo a ele produtos e serviços mais atrativos por meio da melhor experiência possível. Chegou, finalmente, a hora de levar a este cliente o entendimento total sobre o sistema financeiro aberto. E é preciso, mais do que nunca, retomar as lições aprendidas ao longo dos últimos meses e evoluir para a estrutura definitiva do novo ecossistema.
Mas é preciso vencer alguns desafios
Aos olhos de seus proponentes, a competitividade trazida pelo Open Finance resultará em uma reestruturação radical do setor de serviços financeiros, que agora conta com a possibilidade de oferecer mais e melhores opções para consumidores que desejam fazer pagamentos rápidos, pedir dinheiro emprestado, investir suas economias, gerenciar orçamentos domésticos e comparar produtos e serviços financeiros.
Mas, para que todo o potencial do Open Finance seja alcançado, o primeiro passo é fazer com que os clientes tenham maior compreensão do sistema e dos benefícios que obterão compartilhando seus dados. É preciso dar provas reais de que este compartilhamento é seguro e de que todas as suas informações serão usadas com propósitos claros e transparentes. Por isso, as empresas precisam estabelecer a confiança máxima entre elas e seus clientes, para que eles possam sentir que seus dados são usados de forma ética e protegidos com segurança.
O segundo passo é eliminar qualquer possibilidade de discriminação algorítmica e exploração de comportamentos de consumo. O Open Finance existe para melhorar a vida financeira das pessoas, e não para limitar as suas possibilidades ou deixá-las presas em um ciclo exploratório.
Por fim, o terceiro passo é compreender que o Open Finance envolve a consolidação de diferentes contas em vários bancos e sistemas operacionais e que, na grande maioria das vezes, contar com empresas parceiras é crucial para que se obtenha estratégia e tecnologia adequadas para dar suporte aos processos e, especialmente, para aprimorar a experiência do usuário. Instituições mais tradicionais devem superar suas hesitações e buscar recursos capazes de ajudá-las a oferecer melhores soluções para os seus clientes e a manter o seu poder competitivo.
Os desafios são muitos, mas o Open Finance veio para ficar, trazendo consigo possibilidades nunca antes vistas. Cabe, agora, aos seus participantes, entender profundamente o seu conceito e traduzi-lo em forma de benefícios aos usuários finais, aproveitando todo o potencial desta verdadeira revolução.