Segundo Leandro Vilain, diretor de política de negócios e operações da Febraban, o Brasil deve atingir, em agosto, a marca de 1 bilhão de chamadas a APIs do Open Finance, número bastante expressivo quando levamos em consideração o curto tempo de implantação do sistema aqui no país.
Mas, apesar do avanço acelerado no número de chamadas, os principais serviços de Open Finance oferecidos pelos grandes bancos e demais instituições até o momento têm ficado restritos aos agregadores de contas que, basicamente, consolidam dados de diferentes instituições em um só lugar, facilitando a gestão e a visualização da vida financeira dos usuários. Este recurso, obviamente, impacta de forma positiva a vida das pessoas, trazendo uma visão holística das suas finanças, mas ainda é pouco diante de todo o potencial que o Open Finance traz consigo.
Como já dissemos por aqui, o Open Finance vai muito além de um “mero agregador de contas”. Ele permite, de modo geral, que as empresas do setor financeiro possam oferecer soluções diversificadas e personalizadas, num ambiente de serviços totalmente integrado ao dia a dia dos clientes, reduzindo a assimetria de informações, promovendo a cidadania financeira e favorecendo novas formas de relacionamento entre as empresas participantes, seus clientes e parceiros.
Quais os benefícios para as empresas participantes?
Do ecossistema financeiro aberto, podem participar corretoras de valores, cooperativas, bancos, seguradoras, plataformas de investimento, fundos de previdência e pensão, dentre outros. O compartilhamento de dados pode envolver informações que vão desde serviços e produtos bancários e financeiros tradicionais até produtos de câmbio, seguros, previdência e investimentos.
Todos estes atores têm a grande oportunidade de alavancar seus negócios com ganho de market share, aumento da eficiência e redução de perdas, por meio de soluções analíticas que personalizam as ações para cada cliente a partir dos dados Open Finance. Apenas para fins de exemplificação, estas soluções, por sua vez, impactam no relacionamento, na oferta de produtos e na gestão do risco de crédito de cada cliente, por meio da geração contínua de conhecimento e insights e da estruturação dos dados do sistema financeiro aberto. Consequentemente, surgem maiores oportunidades para desenvolvimento e melhoria de produtos relacionados a: PFM, Valuation, Pricing, Ativação de Clientes, Concessão de Crédito, Cobrança, Conquista de Market Share, Previdência e muito mais.
No Open Finance, as instituições financeiras contam com a possibilidade de oferecer uma experiência ‘one stop & shop’ aos seus clientes, o que muda radicalmente a forma como eles lidam com o seu dinheiro. Neste cenário, a instituição deixa de ser apenas uma provedora de conta corrente ou de produtos financeiros clássicos, alcançando o potencial de ser o único canal pelo qual o cliente acessa todo o seu relacionamento de banking de toda e qualquer instituição, consome produtos financeiros (também de toda e qualquer instituição) e recebe inteligência relevante para ajudá-lo a tomar as melhores decisões sobre suas próprias finanças. É o momento em que uma instituição deixa de ser fornecedora de produto para se tornar uma verdadeira advisor da vida financeira do seu cliente.
Para os clientes das instituições financeiras participantes, quais as vantagens?
Em primeiro lugar, temos todas as soluções trazidas para a gestão financeira pessoal. Quando o cliente consegue enxergar suas finanças de forma holística, ele toma decisões mais assertivas e a sua relação com o dinheiro muda completamente, e muda para melhor.
Ao mesmo tempo, ele passa a contar com um relacionamento mais próximo com a instituição financeira, recebendo ofertas de produtos e serviços relevantes, alinhadas ao seu momento financeiro e focadas no seu crescimento. Isso porque o Open Finance permite análises muito mais apuradas do perfil de cada cliente, análises baseadas em dados e informações sempre atualizados, que possibilitam, por exemplo, determinar qual o preço justo de um empréstimo, de acordo com sua capacidade de pagamento e de outras ofertas que recebe do mercado ou, ainda, ativações de cartões e demais produtos com muito mais agilidade e dinamismo.
Nas cobranças, o cliente também sai ganhando. Por meio de insights relevantes para o seu dia a dia, ele passa a cuidar melhor do seu dinheiro, diminuindo a inadimplência e o atraso no pagamento das suas contas. Quando encontra-se inadimplente, ele passa a contar com negociações mais realistas e alinhadas ao seu momento atual, com taxas de juros e condições de pagamento mais atrativos.
Ainda, os investimentos de longo prazo, como previdência, sofrem pressões de mercado por meio da transferência de portabilidade regulada, forçando a instituição a se manter competitiva. Mais um ganho para os clientes, que agora podem ponderar, de forma mais clara, suas necessidades de curto e longo prazos, comparando produtos com as mais diversas características e maior flexibilidade.
Por fim, apenas para não estendermos demais esse texto, precisamos falar da contribuição do Open Finance para a bancarização e para a inclusão financeira. Se considerarmos os dados do Open Banking e do Open Finance, em pouco mais de um ano os sistemas já trouxeram um aumento considerável na inclusão bancária promovida, principalmente, por fintechs e bancos digitais, que ampliaram o acesso dos brasileiros, especialmente os de baixa renda, a produtos financeiros. A revista Isto é Dinheiro apresentou, há alguns meses, uma pesquisa feita pelo Instituto Locomotiva, que mostra que 19% dos brasileiros têm conta em bancos digitais, sendo que 30% deles são das classes D e E. Feito com 1.519 brasileiros, com 18 anos de idade ou mais, entre 27 de outubro e 7 de novembro de 2021, o estudo indicou uma democratização do sistema bancário jamais vista anteriormente.
Como disse o chefe do Departamento de Regulação do Sistema Financeiro do Banco Central, João André Pereira, o Open Finance é um “animal vivo, que nunca vai acabar”. E esse animal vivo, com toda certeza, ainda vai melhorar de forma muito positiva a vida das pessoas.
E como os principais parceiros beneficiam-se com o Open Finance?
Um dos maiores objetivos do Open Finance é devolver ao usuário o poder sobre seus dados financeiros, antes concentrados com os grandes bancos, e possibilitar o compartilhamento de informações com qualquer instituição que o consumidor autorizar. Este compartilhamento, por sua vez, é realizado por meio de uma interface de programação de aplicativo, representada pela sigla API, que permite o fluxo seguro e ininterrupto de dados entre sistemas.
No setor financeiro, as APIs tendem a proporcionar inovação, redução de custos e mais segurança nas transações dos clientes, mas nem todas as empresas do setor financeiro têm capacidade de gerar suas próprias tecnologias para adoção destas APIs. E é aí que fintechs, como a Akropoli, entram. Empresas dos mais variados tipos passam a desenvolver e oferecer soluções para que os players do mercado consigam explorar as oportunidades do Open Finance na sua totalidade, representando um enorme ganho para todos os envolvidos, que contam com o uso cada vez mais seguro e ágil dos dados compartilhados.
O futuro
O Open Finance é um modelo perfeito. Isso porque, dentro da sua estrutura, as instituições financeiras tradicionais e sólidas, que antes ditavam todas as regras, agora passam a competir diretamente com instituições menores, como operadoras de crédito e seguradoras, amparadas nas estratégias, inteligência e tecnologia de provedores terceirizados, como fintechs. Se antes os clientes precisavam aguardar a boa vontade das instituições para receber uma oferta, que na maioria das vezes não se encaixava nas suas expectativas, isso já não acontece mais. Com a competitividade trazida pelo sistema financeiro aberto, produtos e serviços personalizados mais adequados às necessidades dos consumidores estão surgindo numa velocidade jamais vista, o que é maravilhoso.
Ainda há muito por vir, e nós temos a certeza de que haverá uma melhora substancial nas decisões financeiras, simplificando o dia a dia dos usuários e ajudando a criar mais riqueza de forma justa e inteligente, num jogo em que todos ganham.